Uma das instituições de
Águas Claras certamente é a relação patroa-empregada, também conhecida como
relação ajudante-ajudada, assistente-assistida, secretária-chefe ou quais
outros nomes que vocês achem mais politicamente corretos. Na verdade, não sei
nem mesmo se vou falar dessa relação, pois minha experiência se limita a uma
vez por semana, quando a abençoada da F. vai até lá em casa, cozinhar, arrumar
e passar, que lavar ainda é por minha conta, pois tenho um sistema muito
sofisticado (pra não dizer neurótico) para separar roupas por cor e tipo e para
programar a máquina.
Provar que a tal relação é
uma instituição em Águas Claras é fácil. Basta olhar pela janela, lá pelas 7 da
matina, e observar a legião de empregadas domésticas que acorrem, para cuidar
de nossas casas e de nossos filhos, enquanto nós mesmos debandamos para o
Plano, a fim de bancar nossa vidinha classe-média.
Quando as observo pela
janela, misturadas com os operários e porteiros que também chegam (e partem, lá
pelas 5 da tarde, depois de terem ficado mais tempo no nosso prédio ou na nossa
casa do que nós passaremos, naquele dia),
fico imaginando essas vidas tão próximas à minha, em termos “espaciais”,
mas tão distantes, em termos de realidade, de experiências. Não quero poetizar
a pobreza, mas gosto de observar o estilo e de ouvir as histórias, principalmente
as da F., que é fiel escudeira e já acompanhou muita água que rolou na minha
vida – e que já compartilhou comigo muita coisa da vida dela também.
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