Faz 7 anos que moro em
Águas Claras. Recém-separada, um dinheirinho guardado, pensei na possibilidade
de comprar algum imóvel e o movimento natural foi procurar por aqui, pois os
preços do Plano Piloto eram simplesmente proibitivos.
Na época, havia outras
possibilidades, tais como comprar uma casa no Guará. A ideia até agradava, pois
sempre morei na horizontal, mas morava sozinha e as questões de segurança
falaram alto.
Não foi amor à primeira
vista. Os prédios muito altos me intimidaram. Cheguei a pensar em abortar a
missão: “ai, será que me adapto? É tanto concreto. Cadê minha casinha no campo,
com quintal de mato verde e meus discos
e livros e uma rede preguiçosa pra deitar e a sinfonia de pardais, cantando
para a majestade, o sabiá?”.
Idílios à parte, sempre
fui muito prática e acabei me acostumando com a ideia de morar nas alturas. Vi
muitos apartamentos, me apaixonei por um, comprometi cada centavo do salário no
financiamento, realizei o sonho classe média da casa própria e acompanhei no
sienão velho de guerra, pela EPTG afora, a Kombi que fretei levar colchão,
máquina de lavar e televisão, minha fortuna inteira. Finalmente, eu tinha onde
cair morta (mesmo que com a ajuda da Caixa).
Logo que cheguei, em meados
de 2010, montei o blog Em Águas Claras. Nele, contava as descobertas e as
peripécias de quem chega em território novo. Reclamava dos cocôs de cachorro
pelas calçadas, esse clássico imperdível. Reclamava da falta de calçadas.
Reclamava tanto que ganhei até fãs das minhas reclamações: Cláudio Paixão
começou a comentar pelo blog, uns comentários de duzentas laudas, acabou me convidando para conhecer o Fogão
Goiano e o resto é história.
Em Águas Claras, tive
minha filha (ah, os meses de repouso forçado, olhando pela janela para este céu
azul da cidade, o céu de Brasília, que é tão mar...). Morei em 3 lugares
diferentes (todos do lado norte, está aí uma falha na minha perspectiva
águas-clarense: tudo aconteceu ao norte!). Passei num concurso (e estudei ouvindo
os passos da vizinha de cima, essa usuária de saltos agulha finiiiiinhosss
usados pela nona cavalaria montada). Fui visitar cada restaurante novo que
abriu (e engordei, é claro). Aprendi a fazer caminhada com ar blasé. Tive uma
filha, legítima brasiliense (ah, a emoção de apresentar a ela o quartinho
decorado, que montamos com tanto amor...). Vi a caravana da Coca-Cola passar
pela varanda, no primeiro ano da filha, e prometi descer todos os anos seguintes
e desci logo no próximo e então chorei caladinha diante do ursão branco,
enquanto girava minha filha no ar.
Reclamei muito no Twitter – e conquistei
(conquistamos, no caso, que hoje quem gerencia o perfil é o Cláudio Paixão)
mais de dois mil seguidores. Segui Mães Amigas
de Águas Claras no Facebook e aprendi o quanto um grupo desses pode ser útil.
Arrumei rolo em grupo de condomínio no Whatsapp e prometi nunca mais
cumprimentar vizinho algum, mas mudei de ideia e logo estava participando de
mais uns 15 grupos. Levei minha filha a parquinhos pela cidade e não os achei
lá essas coisas, mas criança de apartamento precisa sair e coitadinha, é tudo
tão apertado e criança precisa interagir e lá vamos nós, de baldinho de areia e
brinquedinhos. Prometi nunca mais morar na cidade, diante de uma Estrutural
engarrafada. Desprometi no dia seguinte, curtindo uma piscininha aquecida e
dizendo pra mim mesma “se isso é estar numa pior...”.
O
caso é que me acostumei ao estilo de vida: tudo pertinho e à mão, conforto de
apartamentos novinhos e iluminados, vista para o parque, segurança, uma certa
assepsia que me cai bem. Mais que me acostumar, acabei mesmo é curtindo o estilo
selva-de-pedra, manhattan-do-cerrado. Chegamos ao ponto de hoje, com a família
crescida e com uma certa necessidade de mais espaço, acabar optando por ficar
pela cidade mesmo, nós que juntos agora poderíamos até comprar um 3 quartos no
Plano, mas que não abrimos mão da cidade.
Vida
longa e próspera a Águas Claras – e que venham os próximos 7 anos (com calçadas
e escolas, mas menos cocô, por favor!).