terça-feira, 9 de janeiro de 2018

SETE ANOS EM ÁGUAS CLARAS

Faz 7 anos que moro em Águas Claras. Recém-separada, um dinheirinho guardado, pensei na possibilidade de comprar algum imóvel e o movimento natural foi procurar por aqui, pois os preços do Plano Piloto eram simplesmente proibitivos.

Na época, havia outras possibilidades, tais como comprar uma casa no Guará. A ideia até agradava, pois sempre morei na horizontal, mas morava sozinha e as questões de segurança falaram alto.

Não foi amor à primeira vista. Os prédios muito altos me intimidaram. Cheguei a pensar em abortar a missão: “ai, será que me adapto? É tanto concreto. Cadê minha casinha no campo, com quintal de mato verde e  meus discos e livros e uma rede preguiçosa pra deitar e a sinfonia de pardais, cantando para a majestade, o sabiá?”.

Idílios à parte, sempre fui muito prática e acabei me acostumando com a ideia de morar nas alturas. Vi muitos apartamentos, me apaixonei por um, comprometi cada centavo do salário no financiamento, realizei o sonho classe média da casa própria e acompanhei no sienão velho de guerra, pela EPTG afora, a Kombi que fretei levar colchão, máquina de lavar e televisão, minha fortuna inteira. Finalmente, eu tinha onde cair morta (mesmo que com a ajuda da Caixa).

Logo que cheguei, em meados de 2010, montei o blog Em Águas Claras. Nele, contava as descobertas e as peripécias de quem chega em território novo. Reclamava dos cocôs de cachorro pelas calçadas, esse clássico imperdível. Reclamava da falta de calçadas. Reclamava tanto que ganhei até fãs das minhas reclamações: Cláudio Paixão começou a comentar pelo blog, uns comentários de duzentas laudas,  acabou me convidando para conhecer o Fogão Goiano e o resto é história.

Em Águas Claras, tive minha filha (ah, os meses de repouso forçado, olhando pela janela para este céu azul da cidade, o céu de Brasília, que é tão mar...). Morei em 3 lugares diferentes (todos do lado norte, está aí uma falha na minha perspectiva águas-clarense: tudo aconteceu ao norte!). Passei num concurso (e estudei ouvindo os passos da vizinha de cima, essa usuária de saltos agulha finiiiiinhosss usados pela nona cavalaria montada). Fui visitar cada restaurante novo que abriu (e engordei, é claro). Aprendi a fazer caminhada com ar blasé. Tive uma filha, legítima brasiliense (ah, a emoção de apresentar a ela o quartinho decorado, que montamos com tanto amor...). Vi a caravana da Coca-Cola passar pela varanda, no primeiro ano da filha, e prometi descer todos os anos seguintes e desci logo no próximo e então chorei caladinha diante do ursão branco, enquanto girava minha filha no ar.

Reclamei muito no Twitter – e conquistei (conquistamos, no caso, que hoje quem gerencia o perfil é o Cláudio Paixão) mais de  dois mil seguidores. Segui Mães Amigas de Águas Claras no Facebook e aprendi o quanto um grupo desses pode ser útil. Arrumei rolo em grupo de condomínio no Whatsapp e prometi nunca mais cumprimentar vizinho algum, mas mudei de ideia e logo estava participando de mais uns 15 grupos. Levei minha filha a parquinhos pela cidade e não os achei lá essas coisas, mas criança de apartamento precisa sair e coitadinha, é tudo tão apertado e criança precisa interagir e lá vamos nós, de baldinho de areia e brinquedinhos. Prometi nunca mais morar na cidade, diante de uma Estrutural engarrafada. Desprometi no dia seguinte, curtindo uma piscininha aquecida e dizendo pra mim mesma “se isso é estar numa pior...”.

O caso é que me acostumei ao estilo de vida: tudo pertinho e à mão, conforto de apartamentos novinhos e iluminados, vista para o parque, segurança, uma certa assepsia que me cai bem. Mais que me acostumar, acabei mesmo é curtindo o estilo selva-de-pedra, manhattan-do-cerrado. Chegamos ao ponto de hoje, com a família crescida e com uma certa necessidade de mais espaço, acabar optando por ficar pela cidade mesmo, nós que juntos agora poderíamos até comprar um 3 quartos no Plano, mas que não abrimos mão da cidade.

Vida longa e próspera a Águas Claras – e que venham os próximos 7 anos (com calçadas e escolas, mas menos cocô, por favor!). 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Vida racionada


Racionamento em algumas regiões da cidade. Águas Claras incluída. Um dia sem uma gota. O outro de água suja. Baldes novos. Lixeironas da Leroy. Preço nas alturas. Falta do produto. Banho em cima da bacia. Descarga preciosa, só em momentos mais difíceis – e com a água do banho.

Para quem mora em casa, é tranquilo: caixa grande é certeza de que não se ficará sem água. Quem mora em apartamento, como garantir que o vizinho vai fechar a torneira também? Como vencer a forte sensação do “farinha pouca, meu pirão primeiro”?
Para quem acredita no governo, é tranquilo. Para quem não acredita, como deixar de ver a falta de compunção do presidente da Caesb, que certamente vencerá seus problemas de caixa? Como ignorar que nem todos farão o sacrifício? Estou inclusive tentando agendar o uso do banheiro fase 2, a revanche, para as dependências do trabalho, mas falta combinar com os russos...

Como deixar de desconfiar, de duvidar e de tentar me garantir?


Acho que o que sentimos diante da crise hídrica reflete muito bem o que sentimos na vida em geral: a vida é selva e eu não quero ser a gazelinha que fica para trás na correria e cai nas garras do leão. Ou da Caesb, o que dá quase no mesmo. 

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Voltinha no Parque





Gosto dos rituais: vencer a preguiça, colocar a filhota no carrinho, atravessar a Castanheiras, subir a 26 Norte, entrar pela portinhola, decidir se subo ou se desço (se subo, enfrento o sol no rosto. Se desço, deixo a subida para o final, quando já vou estar cansada), decidir se será volta inteira ou volta interrompida e, finalmente, usufruir a paisagem que, no caso, é tanto natural quanto humana.

Se subo, logo passo pelos pneus com flores. Sempre acho aquilo muito bucólico, mas sou incorrigível e fico também olhando os prédios, avaliando se gosto ou se não gosto da fachada, se o valor é alto ou baixo, se gostaria ou não de morar ali. Nesse exercício, aliás, companheiro e eu temos nossas constantes: falamos mal de um dos condomínios (evidentemente, não falarei qual é, pois já tive a minha cota de polêmica semanal), que é mal-acabado, desestruturado, imenso pombal, e elogiamos o outro, que é lindo, de estruturas firmes e de vista maravilhosa.

À medida que avanço, passo pela “matinha”, que fica ao lado da pista que atravessa o Parque. É ali que costumo observar melhor as pessoas. A fauna é interessante: pequenos, altos. Gordos, magros. Bem-vestidos, largados. Crianças e patins. Skates e cães, muitos cães. Uns dizem boa tarde e levo um sustinho. Outros ouvem música. Alguns simplesmente retribuem o olhar e eu então desvio os olhos e paro pra tomar uma água no bebedouro. Em algumas situações, aliás, já travei conversas breves à beira do bebedouro, conversas que giram em torno dos nossos filhos (lindos) e de nossos cachorros (fofos).

Continuo a caminhada. Se estou com meus pais, fazemos uma paradinha também no banheiro, que sempre acho muito limpinho e me sinto num lugar civilizado e que bom que a manutenção é tão caprichosa.

Depois, chega a apoteose do passeio, pelo menos sob a perspectiva da filha: o laguinho e seus patinhos e gansos e tartaruga (há também um rato não-fofo e muito selvagem e real, que mora na árvore ao lado de um dos bancos – cuidado, portanto, pessoal.). Este também é um lugar interessante para começar conversas aleatórias, soltas, sem compromisso como já existem no mundo das nossas providências e dos nossos negócios complicados.

Atravessamos a pontezinha e então, já que quase sempre a volta é a curtinha, pois o bebê é álibi perfeito e precisa comer e trocar fralda com horário marcado, começo a subida. Dia desses, havia mil minhocas mortas no asfalto. Dó delas, mas o carrinho passa em cima. Desvio das bicicletas que descem à toda e continuo a subir, bufando de sedentarismo, mas  já adrenalinizada e cheia de projetos bem-intencionados, que não se cumprirão (“hoje vou  fazer a volta interrompida, mas amanhã juro que volto e faço inteira).

Atravesso a portinhola e volto à vida @emaguasclaras como ela é: ai, que preguiça de arrastar o carrinho por essas (não) calçadas...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Hospital e escola: AQUI SIM!




Chegou-me aos ouvidos a história de uma moradora de Águas Claras que pegou um táxi e soltou o verbo com o taxista. Segundo ela, não temos escola e hospital público @emaguasclaras porque há ASSOCIAÇÕES e GRUPOS DE MORADORES que se articulam politicamente e impedem isso. Os motivos, enfeixados neste ou naquele argumento furado, têm a ver basicamente com aquilo que a senhora resumiu (elegantemente, aliás) da seguinte maneira: “e esse pessoal por acaso quer pobre de Ceilândia e Samambaia vindo de metrô pra cá, para utilizar escola e hospital? De jeito nenhum!”.

Fiquei tão indignada que até resolvi ressuscitar o blog. Se isso for mesmo verdade (e eu acho mesmo muito provável), acaba por aqui todo o meu gosto por ser moradora da cidade. Quando brinco que somos classe mediazinha, falo isso com carinho, expressando a realidade de quem trabalha, paga conta e se esforça pra ter uma vida digna e minimamente confortável, mas impedir que a cidade desfrute de aparelhos públicos básicos é a coisa mais mesquinha e tacanha que já vi, a coisa mais mediamediocrezinha da face da Terra.

Tenho muita consciência de que não somos sós, de que precisamos do Estado, de que, apesar de nossos condomínios bem-arrumados, de nossas áreas de lazer maravilhosas, continuamos a precisar, para nós e para as pessoas que amamos, de apoio público. Ignorar que um dia qualquer um de nós pode necessitar do aparato estatal é até imaturidade. Vou dar um exemplo bem simples: minha filha toma, por indicação da pediatra, algumas vacinas no Sabin. Outras, a menininha toma no posto de saúde e, querem saber? Prefiro o Posto! Vou àquele da Praça do DI, em Taguatinga, e sempre fui muito bem-tratada. Talvez por darem mais picadas que as colegas do laboratório particular, as servidoras do Posto são muito mais eficazes, mais precisas no serviço. Além disso, uma das vacinas que ela toma gratuitamente, por ser prematura, é a palivimzumabe (acho que é este o nome), uma vacinazinha assim de uns 5 mil reais  A DOSE, sendo que ela tomou 3 doses no ano passado e 3 neste ano.

Qual é o morador da nossa cidade que pode bancar umas doses dessas? Desconheço.

A atitude de quem recusa hospital na cidade, para não atrair pessoas “diferenciadas”, é essa sim é de uma pobreza sem fim. Desconhecer que estamos todos interligados, que o buraco na pista nos diz respeito, pois podemos nos machucar nele, que o hospital público ao lado da nossa casa pode ser o que vai nos salvar a vida (ou nos pagar um tratamento de câncer, não bancado por nossos super planos de saúde, que nos faltam nas horas mais necessárias), que a escola pública pode fazer a vida de empregadas domésticas, porteiros e funcionários em geral mais fácil, e que isso é excelente, mesmo se consideramos só nossa perspectiva egoísta, pois pode refletir na prestação de serviços melhores, é ser mesmo muito imaturo, é conhecer pouco da vida e das fragilidades humanas.

Enfim, como não sei se se trata mesmo de uma verdade, paro por aqui, mas fica um último recado: queridos, se fôssemos mesmo RICOS, que não precisam conviver nem entrar em contato com pobres, estaríamos morando no Plano Piloto. Ou melhor, estaríamos no Lago Sul. Ou em Miami. Ou em Dubai.

Não aqui @emaguasclaras.

 Não aqui.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Parabéns, Detran!

Brincadeiras à parte (sim, meus amigos, foi uma brincadeira. Afinal, todo reacionário tem seus limites), o que REALMENTE me dá uma coisa boa demais no coração é ver todos aqueles motoristas desonestos, que furam a fila na entrada da cidade (aquela entrada que cruza uma  via estrada férrea), darem com os burros n’água, colocarem os faroizinhos por entre as pernas e darem uma volta imensa, ao se depararem com a fiscalização do Detran.
É quase um orgasmo, juro. Vontade de  dar minha risadinha de bruxa e gritar um “bem-feito” redondo e universal, dirigido a todos os que acham que são espertos e mais importantes que os outros e que precisam chegar mais cedo e que têm o tempo mais valioso da face da Terra e que se danem vocês que seguem as regras e fazem essa filinha patética

Apenas mais uma mãe como outra qualquer


O fato de ter uma criança em casa mudou muita coisa na minha relação com a cidade.

Tenho, por exemplo, que “comemorar” cada cachorro que vemos (“que fofo, filha, que cachorro mais liiiiindo, olha só o lacinho dele etc”), pois a mocinha  é simplesmente vidrada neles e toma conhecimento de CADA UM dos bichos que passam por nós. Para fazer convenientemente o gosto dela, paro as pessoas, na maior cara de pau, para  ela emitir gritinhos e abanar as mãos, louca pra dar um apertão no bicho ou enchê-lo de beijos (o que eu nunca deixo, pois tenho medo de o cachorro tirar uma lasca da mãozinha dela).

 Enquanto ela festeja e o cachorro late, desconfiado, geralmente faço comentários do tipo “ela é louca com animais e nós vamos ter que arrumar um”. O dono do cachorro sempre fica comovido por ter a beleza e o carisma de seu bicho de estimação reconhecidos por um neném tão lindo (crianças sabem das coisas...), e eu omito o fato de que, para ela, não importa raça, cor, tamanho: o importante é que o objeto de tanta atenção amorosa seja minimamente reconhecível como um legítimo integrante do fantástico universo canino.

Além dessa interatividade by dogs, também estou muito mais interativa no condomínio: desço para a brinquedoteca, cumprimento porteiros, uso salão de festas, amolo síndico, interajo com babás... Virei, para o bem ou para o mal, a típica mãe águasclarense (alguém me disse um dia desses que não existe essa palavra, que quem nasce aqui é brasiliense e blábláblá, mas eu faço questão de continuar usando; acho que é uma questão de identidade), guardiã da moral e dos bons costumes, farol da pureza e do amor verdadeiro.

Exatamente por ter me rendido ao papel de mãe virtuosa, sinto uma estranha sensação de vitória quando fico sabendo que estão processando o Primeiro’s Bar por causa do barulho, que fecharam ontem o Libannus às 9h30 da noite, que impediram a sexy shop de abrir... Enfim, se eu não posso, que os outros não possam também! (A propósito, a referência à sexyshop é meramente estilística, ok? Afinal, não dou detalhes da minha vida sexual por aqui, certo? Deixem de fantasiar a desgraça alheia!)

 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Vida social @emaguasclaras


Depois do nascimento da filhota, nossa vida social se resume a nada vezes nada. No máximo, damos uma passada num restaurante ou numa lanchonete, para comer, enquanto Letícia explora um canudinho (sim, meus amigos, uma das paixões dela, junto com controles remotos de todo tipo, são canudinhos quadriculadinhos e compridinhos. Para competir com os canudos no quesito “distrações para bebês fofos”, o canudinho só perde para a Galinha Pintadinha, esta sim, imbatível.).

 

Bem,  considerando nossos agitos sociais, vocês imaginam o quanto fiquei satisfeita e feliz e me sentindo uma pessoa muito bem relacionada, quando um colega do novo trabalho nos chamou para jantar, depois de uma longa conversa que tivemos, a partir de uma pergunta básica que fiz a ele: “Fulano, moro em Águas Claras porque não tenho condições de morar no Plano, então morro de curiosidade de saber por que você, que certamente poderia morar onde quisesse, não percorre a Estrada Real rumo ao pote de ouro denominado apartamento-localizado-numa-das-asas?”.

Pena que não gravei a conversa. Nossa, ele falou coisas MUITO interessantes, com as quais concordo e que, aliás, até têm sido pauta desse blog por muito tempo, a saber:

·         para quem não trabalha em horário de pico de trânsito ou tem flexibilidade nos horários, ir e vir de Águas não é assim um problema terrível;

·         a cidade dispõe de serviços muito bons, o que possibilita independência do Plano (só dependemos para trabalhar);

·         não dá para comparar o tipo de apartamento que você compra nas Asas com o que compra em Águas Claras. Com o preço de um 3 quartos na maquete, você compra algo muito mais espaçoso, de frente para  o Parque, ou seja, você t em um espaço interno que é quaquilhões de vezes superior, além de uma área de lazer impossível de encontrar em paragens mais valorizadas.

 

Nossa, fugi TANTO do assunto que terei que nem deu pra contar efetivamente o que queria contar: a nossa noite de polpettone, massa, vinho, risadas, varanda e novos amigos.

A vida pode ser boa @emaguasclaras.

Acredite.

P.S.: detalhe é que saímos lá pela meia-noite e meia, Paixão e eu, acabadões, nos sentindo uns baladeiros, e, no dia seguinte, vimos foto do outro casal convidado (éramos seis pessoas), dando tudo de si em outra festa, que durou até o dia amanhecer. Ah, a juventude...