Águas Claras vive, neste exato
momento, uma daquelas manhãs mágicas, de temperatura agradável e luz perfeita. Em função disso, e como sou uma pessoa pra cima, que sempre busca ver o melhor em
tudo, falemos sobre a relação do águas-clarense (por favor, alguém poderia
esclarecer qual é o termo correto????) com ela, a CHUVA.
Se para você a chuva é
simplesmente um delicioso bater de gotas na janela ou uma chance sem igual para
que plantinhas floresçam ou para que
seja possível viver um momento idílico, que envolva um balde de pipoca e uma
lista deliciosa de filmes inéditos, devo dizer que, provavelmente, você NÃO
mora em Águas Claras.
Por aqui, nossa relação com a
chuva é um tantinho mais, digamos, visceral. Quando nuvens escuras se agrupam
nos céus, nós:
- conferimos várias vezes,
principalmente se é fim de expediente e estamos no Plano, para calcular o que é
melhor fazer: sair antes ou depois da chuva? Parar no shopping e pagar algumas
contas ou enfrentar o trânsito? Ir pela
EPTG ou pela Estrutural?
- se, por sorte, já estamos em casa (ou ainda
não saímos), tomamos logo banho e colocamos
todos os celulares e notebooks e tablets na tomada, para carregar, pois (e
disso tenho certeza) a questão não é SE a energia elétrica vai faltar, mas QUANDO isso acontecerá, de forma que é preciso
ter os aparelhos bem carregadinhos, para que vaguemos pela casa, como almas
penadas cibernéticas, cada um com seu celular na mão, que essa é a última luminosidade que nos
resta antes de apelarmos para as indefectíveis velas de 7 dias. Aliás, morro de
inveja do Paixão, que tem, olhem só que incrível, uma LANTERNA no celular
dele!!!! Não é incrível??? Da última vez em que precisamos subir escadas no
escuro –porque sim, meus queridos, nem
todo prédio tem seu próprio gerador e nem todos os andares são baixos e nem
sempre você se dispõe a esperar 17 horas
para finalmente poder chegar em casa -, utilizamos essa fantástica tecnologia e
eu pensei que preciso dar uma passada urgente na Feira dos Importados, pra
comprar uma lanterninha de 1,99.
- se, por acaso, você está no
trânsito, dentro da cidade, provavelmente estará com as
mãos cravadas no volante, enquanto “brinca” de vídeo-game da vida real: opa,
você desviou de um buraco. 10 pontos. Não conseguiu desviar do próximo, que está
a 5 metros e é praticamente uma cratera. Perde 50 pontos e a paciência, mas a
viagem precisa continuar. Agora é uma super poça. Paraabéns, você passou a 200
por hora, para conseguir não atolar, como aquele outro carro bem ao seu lado!
Ops, agora é pedestre. Ok, você não perde uma vida e consegue frear a tempo e o
carro de trás não bate em você e você pode mudar de fase, que agora é hora de
tentar um caminho alternativo, para não passar naquela Praça Flamboyant nem na Av. Águas Claras nem
em todos aqueles lugares que, você sabe, são campos minados (deveria dizer
molhados, pois não?) do jogo.
P.S.: enquanto brinco, lembro
família querida, que mora na Estrutural, e que a chuva de ontem deixou sem casa,
sem roupa, sem móveis: são 6 crianças e adolescentes, além dos pais. Façam uma
vibração positiva para eles: o importante é que hoje não chova novamente, para
que, até o final do dia, possam reconstruir o barraco. Acreditem em mim, há situações muito piores
que as que vivemos em Águas Claras – por mais que essas situações nos exasperem
tanto, principalmente pelo descaso governamental e pela ausência de um “corpo”
de manifestação popular bem estruturado (em bom português, individualismo
atroz, de que padecemos todos, quase que sem exceção). Enfim, mas isso é papo para outro chope, digo, post.