quarta-feira, 6 de junho de 2012

Senhores proprietários


Assim que o rejeitado se retirou, eis que surge o nosso personagem querido, a partir de agora denominado O Síndico, que, depois de diversos comentários sobre o tempo e o vento, perguntou se haveria problemas em “fazer um barulhinho, pra ajeitar os fios dela, a TV”. O  tal aparelho parece ser assim uma espécie de viaduto do síndico, obrinha querida, que dá orgulho e visibilidade e eu não tive alternativa, a não ser deixar que a furadeira arrebentasse todas as possibilidades de ler minha querida revista inútil.

Logo mais dois colegas de academia dão as caras, em plena segunda às 10 da manhã. Além do inusitado da cena em si (4 adultos "em casa", em pleno horário comercial), coincide que, além disso, também somos senhores-proprietários-classe-média, legítimos pagadores de taxas condominiais, de modo que, inevitavelmente, a conversa logo descamba e vira uma espécie de reunião informal do condomínio.  Fico sabendo então  que  lâmpadas têm queimado sem parar e infiltrações são terríveis e graças a Deus que não temos isso no prédio. Descubro também  que vão transformar o salão de festa em “espaço gourmet”, ou seja,  vão modernizar o lugar e  colocar  uns sofás    mais uma TV (viadutinhos do coração!) e que tudo isso significa uma taxa extra que vai durar quase toda a eternidade.

Fiquei quieta, só ouvindo, agradecendo a Deus por haver pessoas que decidem por mim, mas também me perguntando por que cargas d’água sou tão irresponsável e deixo nas mãos dos outros um tipo de decisão tão importante. 

Controle


Retorno à academia do prédio, depois de um interminável mês de pesadelo (sobre o qual, a propósito, prefiro me calar, até porque este blog tem uma linha editorial bem definida). Arrasto até lá   garrafinha de água, revista,  celular e preguiça, mas ignoro que, naquele local, o dia vai ser um pouco mais agitado .

Quando chego, vizinho que já está por lá se aproxima, para me entregar o controle da TV. Devo acrescentar que esse aparelho  foi instalado há pouco mais de um mês e  passou a infernizar minha vida de leitora. O mais engraçado é que, quando ela foi instalada, o síndico me procurou, convicto de que estava agradando, para perguntar onde deveria colocá-la. Tive vontade de perguntar, com ar chocado,  “e quem disse para o senhor que essa é uma boa ideia?”, mas vida em condomínio é assim e precisamos respeitar o interesse coletivo e se quer uma academia só pra si, muda para uma casa e, então, passei alguns minutos discutindo com ele se era melhor colocar à direita ou à esquerda.  A única reação que consegui ter, para expressar meu desgosto, foi boicotar o uso da tal televisão, ou seja, nunca ser responsável por ligá-la ou desligá-la. É claro que se trata de uma medida irrelevante, que não muda nada e só me faz passar como antipática, pois estou sempre falando para as pessoas gentis, que terminam a série e querem me entregar o controle:

- Não, obrigada, não vou assistir.

Isso sempre causa uma dissonância cognitiva nelas, que levam um sustinho do tipo “nossa, mas como assim, ela recusar virar a dona provisória da programação?”. Não foi diferente ontem, motivo pelo qual prometi para mim mesma que, da próxima vez, aceitarei docilmente e aprenderei com a Ana Maria Braga maravilhosas técnicas de confecção de bombocados de jiló. 

Bem, este deveria ser um post sobre o dia inteiro, mas acabei falando só da TV e isso está se estendendo demais, de modo que vamos encerrá-lo, pra contar o resto nos próximos capítulos, digo, nos incríveis posts futuros.