sexta-feira, 30 de maio de 2014

Apenas mais uma mãe como outra qualquer


O fato de ter uma criança em casa mudou muita coisa na minha relação com a cidade.

Tenho, por exemplo, que “comemorar” cada cachorro que vemos (“que fofo, filha, que cachorro mais liiiiindo, olha só o lacinho dele etc”), pois a mocinha  é simplesmente vidrada neles e toma conhecimento de CADA UM dos bichos que passam por nós. Para fazer convenientemente o gosto dela, paro as pessoas, na maior cara de pau, para  ela emitir gritinhos e abanar as mãos, louca pra dar um apertão no bicho ou enchê-lo de beijos (o que eu nunca deixo, pois tenho medo de o cachorro tirar uma lasca da mãozinha dela).

 Enquanto ela festeja e o cachorro late, desconfiado, geralmente faço comentários do tipo “ela é louca com animais e nós vamos ter que arrumar um”. O dono do cachorro sempre fica comovido por ter a beleza e o carisma de seu bicho de estimação reconhecidos por um neném tão lindo (crianças sabem das coisas...), e eu omito o fato de que, para ela, não importa raça, cor, tamanho: o importante é que o objeto de tanta atenção amorosa seja minimamente reconhecível como um legítimo integrante do fantástico universo canino.

Além dessa interatividade by dogs, também estou muito mais interativa no condomínio: desço para a brinquedoteca, cumprimento porteiros, uso salão de festas, amolo síndico, interajo com babás... Virei, para o bem ou para o mal, a típica mãe águasclarense (alguém me disse um dia desses que não existe essa palavra, que quem nasce aqui é brasiliense e blábláblá, mas eu faço questão de continuar usando; acho que é uma questão de identidade), guardiã da moral e dos bons costumes, farol da pureza e do amor verdadeiro.

Exatamente por ter me rendido ao papel de mãe virtuosa, sinto uma estranha sensação de vitória quando fico sabendo que estão processando o Primeiro’s Bar por causa do barulho, que fecharam ontem o Libannus às 9h30 da noite, que impediram a sexy shop de abrir... Enfim, se eu não posso, que os outros não possam também! (A propósito, a referência à sexyshop é meramente estilística, ok? Afinal, não dou detalhes da minha vida sexual por aqui, certo? Deixem de fantasiar a desgraça alheia!)

 

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