Chegou-me aos ouvidos a história de uma moradora de Águas
Claras que pegou um táxi e soltou o verbo com o taxista. Segundo ela, não temos
escola e hospital público @emaguasclaras porque há ASSOCIAÇÕES e GRUPOS DE
MORADORES que se articulam politicamente e impedem isso. Os motivos, enfeixados
neste ou naquele argumento furado, têm a ver basicamente com aquilo que a
senhora resumiu (elegantemente, aliás) da seguinte maneira: “e esse pessoal por
acaso quer pobre de Ceilândia e Samambaia vindo de metrô pra cá, para utilizar
escola e hospital? De jeito nenhum!”.
Fiquei tão indignada que até resolvi ressuscitar o blog. Se
isso for mesmo verdade (e eu acho mesmo muito provável), acaba por aqui todo o meu
gosto por ser moradora da cidade. Quando brinco que somos classe mediazinha,
falo isso com carinho, expressando a realidade de quem trabalha, paga conta e
se esforça pra ter uma vida digna e minimamente confortável, mas impedir que a
cidade desfrute de aparelhos públicos básicos é a coisa mais mesquinha e tacanha
que já vi, a coisa mais mediamediocrezinha da face da Terra.
Tenho muita consciência de que não somos sós, de que
precisamos do Estado, de que, apesar de nossos condomínios bem-arrumados, de
nossas áreas de lazer maravilhosas, continuamos a precisar, para nós e para as
pessoas que amamos, de apoio público. Ignorar que um dia qualquer um de nós
pode necessitar do aparato estatal é até imaturidade. Vou dar um exemplo bem
simples: minha filha toma, por indicação da pediatra, algumas vacinas no Sabin.
Outras, a menininha toma no posto de saúde e, querem saber? Prefiro o Posto!
Vou àquele da Praça do DI, em Taguatinga, e sempre fui muito bem-tratada. Talvez
por darem mais picadas que as colegas do laboratório particular, as servidoras
do Posto são muito mais eficazes, mais precisas no serviço. Além disso, uma das
vacinas que ela toma gratuitamente, por ser prematura, é a palivimzumabe (acho
que é este o nome), uma vacinazinha assim de uns 5 mil reais A DOSE, sendo que ela tomou 3 doses no ano
passado e 3 neste ano.
Qual é o morador da nossa cidade que pode bancar umas doses
dessas? Desconheço.
A atitude de quem recusa hospital na cidade, para não atrair
pessoas “diferenciadas”, é essa sim é de uma pobreza sem fim. Desconhecer que
estamos todos interligados, que o buraco na pista nos diz respeito, pois
podemos nos machucar nele, que o hospital público ao lado da nossa casa pode
ser o que vai nos salvar a vida (ou nos pagar um tratamento de câncer, não
bancado por nossos super planos de saúde, que nos faltam nas horas mais
necessárias), que a escola pública pode fazer a vida de empregadas domésticas,
porteiros e funcionários em geral mais fácil, e que isso é excelente, mesmo se
consideramos só nossa perspectiva egoísta, pois pode refletir na prestação de
serviços melhores, é ser mesmo muito imaturo, é conhecer pouco da vida e das
fragilidades humanas.
Enfim, como não sei se se trata mesmo de uma verdade, paro
por aqui, mas fica um último recado: queridos, se fôssemos mesmo RICOS, que não
precisam conviver nem entrar em contato com pobres, estaríamos morando no Plano
Piloto. Ou melhor, estaríamos no Lago Sul. Ou em Miami. Ou em Dubai.
Não aqui @emaguasclaras.
Não aqui.
Alguém sabe quanto custa para construir uma escola e um hospital público ? Quantos empregados são necessários para manter ? E por que o GDF ainda não construiu nada em Águas Claras ?
ResponderExcluirBoas perguntas, Nazareno. Espero que os candidatos destas eleições saibam responder... Grande abraço e obrigada por prestigiar o blog! :)
ResponderExcluirMoro em Águas Claras a 10 anos e em igual período participo de Associações Comunitárias e todo tipo de movimentação política em busca de melhorias para a cidade. Não me lembro de nenhum debate oficial sobre o tema e estou certo de que nenhuma entidade se posicionou contra construção de escolas e hospitais públicos. No entanto, o contrário já ocorreu. Acredito que esta tese sempre foi usada pelos governos maldosamente para justificar a falta de interesse em construir na parte vertical escolas e hospitais. Se quiseram conferir a vontade popular é só consultar as prioridades apontadas nas reuniões do orçamento participativo e esta tese cairá. Ruben Costa - Diretor da Amaac
ResponderExcluirOlá, Ruben.
ExcluirObrigada por comentar. Fiquei feliz por saber que essa não é a perspectiva das associações. Ufa!! A ideia me assustava..
O Acorda Águas Claras reitera e tem mesma convicção do comentário feito pelo amigo Ruben Costa.
ResponderExcluirQue bom! ;)
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