sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Saia da Maquete!


Chegou às minhas mãos a revista Veja Brasília, que pretende dar um panorama do que é Brasília, do que há para fazer , de quem são as pessoas mais interessantes, de quais são os melhores lugares para comer e beber.

Não vou entrar aqui no mérito da qualidade do trabalho, mas a revista retrata, de forma fidelíssima, a grande miopia da Capital, que é a de ignorar solenemente o chamado “Entorno de Brasília”, antigamente denominado de “cidades-satélite”. Em suma, a revista se limita a trazer a vida que acontece no Avião, na Maquete, nas Asas e, no máximo, nos Lagos da vida, ignorando solenemente toda a vida que pulsa em derredor.  O que mais me espanta, entretanto, não é a opção editorial feita, até porque imagino que deve ser muito complicado definir mesmo o que vem  a ser Brasília, o que constitui efetivamente a amplitude da “Cidade” e, dessa forma, apelar para definições “da lei” é bastante confortável. O que me espanta mesmo é que, para muitas pessoas que convivem comigo, Brasília é MESMO apenas o glorioso Plano Piloto.

Nestes 7 anos em Brasília, tive dois endereços no Sudoeste e, agora,  estou em Águas Claras. Logo que cheguei, ficava muito restrita mesmo ao Plano: tudo era resolvido ali entre o Conjunto Nacional e o Setor Hospitalar Sul. Com o passar do tempo e com as mudanças inevitáveis da vida, acabei abrindo os horizontes, processo que, evidentemente, ainda está em curso, mas, desde já, posso dizer:  que riqueza, quanta diferença, como há o que desbravar!  Mais que isso, posso afirmar: quanta pobreza, acreditar que tudo se limita à Brasilha da Fantasia, aos prédios todos iguais, às avenidas intermináveis, aos monumentos maravilhosos...

Veja bem, não estou dizendo que tudo isso não tenha lá o seu charme, até porque já me rendi a ele e acho o máximo transitar por um espaço tão diferente. O que não entendo é quem OPTA por ficar no limite de uma linha imaginária,  onde, em muita cabeça paranoica,  se está a salvo da pobreza e a violência. Lembro a série Once Upon a Time, em que os moradores de uma cidade fictícia estão eternamente condenados a viver no território exíguo da cidadela, pois, assim que colocam o pezinho para fora da linha, perdem todas as suas lembranças e sua própria identidade.  O que não percebem, enganados pelas facilidades de uma vida medíocre, é que talvez a identidade plena só se desenvolva para muito além da linha imaginária.

Enfim, faço um apelo aos meus queridos moradores do Plano que, nascidos e criados por ali, nunca experimentaram a Feira do Guará, o Parque de Águas Claras, a efervescência de Taguatinga. Nossa, há tanta coisa por descobrir! Bem, então é isso. Acredite em mim: “as glórias e as caras da cidade”  vão muito, muito além do Plano Piloto e de  suas adjacências  ricas. 

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