quinta-feira, 29 de novembro de 2012

D. Marta em Águas Claras - O Barulho



Ela encontra vizinha no elevador e puxa conversa:

“Ah, você então vai parar no mesmo andar?”

“É sim”

Eu tento ajudar:

“Ela é a moradora do 5001, mãe.”

D. Marta  fica encantada:

“Ah, você tem um menino pequeno, não tem? Eu sempre ouço o barulho.”

A vizinha é muito agradável e responde, meio que se desculpando pelo “barulho”, e então eu digo que é um barulhinho bom (e é verdade, eles são uns vizinhos ótimos e nunca nos amolaram), a mãe concorda e diz que crianças são a alegria de um lugar.

 Despedimo-nos no corredor, mas eu ainda fico com uma vontade danada de explicar para ela (a vizinha) que, diferentemente de Águas Claras, o lugar de onde viemos é um lugar onde vizinhos não só se cumprimentam, mas trocam ideias, se ajudam e (principalmente) cuidam um da vida do outro.

3 comentários:

  1. Eu fico imaginando as cenas quando leio seus posts. Confesso que dei uma boa risada aqui. Como é bonito ver espontaneidade. Hoje em dia todos querem passar as impressões (não somos impressoras rsrsrs desculpa o trocadilho)de que são sérios, cultos e tem cargos importantes em empresas multinacionais. Aposto que morrem de vontade de ser assim espontâneos, mas morrem de medo ~do que vão pensar/achar~

    Já li todos os posts novos, aguardo mais textos
    Obrigado Issana

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  2. É mesmo. Você conhece um "Poema em Linha Reta", do Fernando Pessoa? Tem tudo a ver com o que você escreve sobre as "impressões" (rs);



    Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
    Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


    E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
    Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
    Indesculpavelmente sujo,
    Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
    Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
    Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
    Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
    Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
    Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
    Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
    Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
    Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
    Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
    Para fora da possibilidade do soco;
    Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
    Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


    Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
    Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
    Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


    Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
    Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
    Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
    Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
    Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
    Ó príncipes, meus irmãos,


    Arre, estou farto de semideuses!
    Onde é que há gente no mundo?


    Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


    Poderão as mulheres não os terem amado,
    Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
    E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
    Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
    Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
    Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

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    1. Não conhecia o poema, li duas vezes pra conseguir entender (confesso rsrs). Realmente cada vez mais se preza pelas aparências e se esquecem de viver as coisas simples. Até eu estava ~nesse barco, mas me joguei na água e agora estou eu mesmo nadando~. As pessoas que estão comigo, estão porque admiram quem eu sou e não quem eu pareço ser, felizmente.

      Muito bom interagir com outras pessoas assim.
      Obrigado!

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