domingo, 18 de novembro de 2012

Mas e o Tim Maia?


Síndicos são espécimes muito interessantes.  Frequento 2 prédios diferentes, então tenho acompanhado as peripécias de dois exemplares desta fauna. Confesso que ando intrigada e não tenho resposta para uma pergunta muito simples: afinal, o que leva alguém  a se tornar um síndico?


Faça um esforço e imagine a cena: você está ali, na sua vidinha tranquila de morador-classe-média-que-leva-seu-cachorro-pra-cagar-em-frente-ao-prédio-dos-outros  e resolve aparecer  numa certa reunião de condomínio, pra reclamar do barulho do 504, mas então leva um choque gostoso (nada como a popularidade, pois não?) quando alguém levanta seu nome como uma candidatura de peso para a batata-quente do ano, digo, para assumir o papel de síndico.


Você então, contra todas as probabilidades (e também contra a opinião de sua mulher), é vencido pela lisonja e  aceita a tarefa, quer dizer,  troca toda a tranquilidade possível na sua vida já tão intraquila  pelo privilégio de exercer um micro poder (será que essa é a resposta? Acho que, sozinho, o puro exercício do poder não justifica tanta chatice a suportar!) e, olhem só que incrível,  você também deixa de pagar a taxa de condomínio e passa a ganhar uns caraminguás de pro labore que, venhamos e convenhamos, não pagam nem um milésimo das infinitas amolações que, a partir daquele momento, não são mais do prédio ou da comunidade ou de cada vizinho em particular, mas passam a ser soberanamente suas – e você que se vire.


A partir de então, você se torna um escravo do prédio. Barulho no Primeiro às 3 da madrugada? Interfonam pra você. Sumiu uma encomenda? Pedem providências logo ali, no corredor do hall. Apartamento do 11º andar alagou todo o andar e os moradores desapareceram no ar? É você que tem que correr atrás do telefone do filhodedeus.  Crianças tocando o terror nos elevadores? Lá vai ele, o Síndico-Vilão, tirar doce da boca de crianças, digo, impedir a moçada de arrebentar (ou arrebentar-se) as engrenagens carésimas daqueles elevadores high-tech.

Eu mesma não sou lá muito de reclamar (pura falta de tempo, é claro!), mas já procurei o síndico daqui pra falar da luz que queimou no corredor, do cheiro de comida podre do andar, da vizinha que me liga às 6 da matina pra reclamar de um barulho inexistente. Imaginem quem curte uma reclamaçãozinha então, hein? É quase irresistível acionar a Polícia do Prédio.


Bem, mas então é isso: devo confessar que sou muito fã do síndico daqui, que se dedica DE VERDADE ao prédio. Não é incomum vê-lo com uma enxada na mão, ajeitando o jardim, ou parafusando uma lâmpada aqui, outra ali, quer dizer, temos a sorte de ter um síndico que, olhem só que diferente, esforça-se para além das responsabilidades. Para dar mais um exemplo dessa “dedicação sem fronteiras”: fizemos uma festa aqui no aniversário do Cláudio (huuum, isso merece um post, concordam?) e estávamos arrastando com dificuldade  uma mesa de 200 quilos e, tcharam, eis que surge, do nada, ele, o Síndico do Ano, que  não hesitou e passou a puxar peso junto com a gente.


Tá, pode ser que amanhã mesmo eu fique super desgostosa com o cara e volte aqui para reclamar, mas, por enquanto eu só posso louvar a quem, neste miolinho individualista chamado Águas Claras, se dispõe a cuidar do espaço comunitário, a arbitrar conflitos bobos, a gerenciar egos e situações.

Quando crescer, vou ser assim: uma síndica.

3 comentários:

  1. Estou experimentando um pouco desse "gostinho" quando decidi ser representante da turma na faculdade. Traz algum prestígio mas a amolação é maior. rsrsrsrs ótimo post Issana.

    ResponderExcluir
  2. Nossa, representante de turma é treinamento-bope para futuros síndicos... rsrs

    ResponderExcluir
  3. Não serei síndico, deve ser pior, deixa eu terminar o mandato de representante e eu me aposento de ser organizador de alguma coisa rsrsrs

    ResponderExcluir