sexta-feira, 23 de março de 2012

É pedir muito?

Como vocês sabem – e o post anterior só confirma,  sou uma moradora Homer Simpson, leiga e previsível. Não conheço de regras para instalação de obras, não sei nada de responsabilidades legais, pouco entendo de administração da coisa pública. Exatamente por ser assim, tão desataviada do entendimento das sofisticadas entranhas do exercício do poder, ainda fico perplexa diante de algumas situações que ocorrem em Águas Claras.  Essas situações são muitas, mas as mais contundentes se referem ao modo como as construtoras lidam com espaços públicos, tais como as ruas e as calçadas.

Uma das quadras que dá acesso à estação Águas Claras do metrô é, para mim, um exemplo emblemático dessa relação. Essa quadra abrange a Avenida Castanheiras, as ruas 24 e 25 Norte e, se não me engano, a Boulevard. Por uma conjunção astral não tão incomum na cidade, calhou de a quadra se constituir num canteiro de obras a céu aberto: há vários prédios sendo construídos, de forma simultânea.

Ora, dirá o querido leitor, causar espanto, algo tão comum como edifícios vizinhos sendo construídos ao mesmo tempo? Não é exatamente isso que causa o tal do espanto, pois sei - e às vezes até aprecio – essa característica da cidade, que se ergue ao alto e avante. Não somente sei, mas também entendo que, diante de tantos prédios a serem construídos, de tantas variáveis a equacionar, a política da boa vizinhança implora por um bocadinho de paciência. É compreensível, portanto, que, durante um certo período de tempo, haja barulho e pó, caminhões e entulho, pedras mil pelo caminho.  

O que me causa espanto e perplexidade, entretanto, é que o entendimento de uma saudável política de boa vizinhança não se espraia no campo da reciprocidade. Em bom português: tudo se espera do morador, nada fazem as construtoras pelo bem comum. Continuemos com o exemplo.

No caso da quadra que citei, foram construídos quiosques (oi?) de trabalho nas calçadas, ou seja, há pequenos barracos de madeira, onde estão algumas máquinas e onde ficam alguns trabalhadores da obra. Nas calçadas (ou no território a elas destinado, melhor dizendo). Do lado de fora (conceito que, como o leitor atento pode perceber,  parece ser indistinguível ao bom capitalista erguedor de arranhas-céus). Pedestre, portanto, deve ir para a rua.

O problema é que a rua, bem, a rua... Há que se estacionar os caminhões e as máquinas. Onde mais, que não na rua, durante todo o tempo? O pedestre (lembram-se dele?) passa então a disputar, numa concorrência desleal por natureza, em que já é perdedor antes que o jogo comece,  espaço com os carros que, inadvertidamente, também se esgueiram por entre a água suja e a lama que escorre de um prédio ou outro. Em suma, parece-me tão gentil e sustentável, do ponto de vista da boa convivência, que as próprias construtoras, tão vorazes na sua sede de espaço e território, por elas mesmas cuidassem de oferecer uma nesga, um fiapo, uma trilhazinha para que o pedestre possa exercer o direito sagrado de ir e vir, expressão de um valor absoluto para a espécie humana: a liberdade.

O que mais me espanta, entretanto, tolinha que sou, é que este é um fato que se repete ad infinitum por toda a cidade. É  fato devidamente anunciado e documentado por moradores distintos, em momentos mil, com preferências políticas diversas. Todos os dias, de forma até religiosa, cidadãos que precisam transitar pela cidade reclamam e gritam e reivindicam, até porque, se estão abertos à paciência e à boa vizinhança, a pagar seu tributo (mais um?) à vida em sociedade, encontram, do outro lado, a empáfia indiferente de quem tem coragem de avançar com tapumes sobre um ponto de ônibus. Encontram a mente do engenheiro e de seus prazos, mas não encontram a calçada, perdida nos desvãos da  impunidade.

Gostaria de entender o silêncio e o descaso, até porque acredito piamente que deve haver uma explicação.

Eu só não consigo entender qual é, sem transitar pelos corredores da suspeição.






Um comentário:

  1. E onde está a administração da cidade para pressionar a Agefis ou então ela mesma agir? Acho que chega um momento que não devemos apenas tapar buracos (literalmente), mas colocar ordem na cidade!

    As construtoras dominam as ruas com seus caminhões (na contramão inclusive), lama, água, concreto e poeira. Imagina em dia de chuva que beleza?

    A quem quer que seja o responsável: ainda existem pedestres nas ruas de Águas Claras!!

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